domingo, 5 de agosto de 2012


UMA NOVA CHANCE PARA VIVER

Ana Vera Lemos

Parado ali, olhando as pessoas, a terra fofa amontoada, os murmúrios, os pássaros que cantavam nas árvores ao redor, Augusto sentia um estranho alheamento. Parecia que aquelas coisas não estavam acontecendo, que ele não estava ali realmente e que o corpo dentro do caixão envernizado, com alças de metal dourado polido, não era o de Catarina. Tudo parecia um sonho. Apesar de estar num cemitério, achava estranho não parecer um pesadelo, tamanha era a calma que reinava ao seu redor.
 Aquele inquérito estava praticamente definido. Augusto seria fatalmente pronunciado e levado a julgamento. No mínimo seria condenado pela morte de Márcia. Mas alguma coisa em tudo aquilo estava errada. Paulo tinha certeza disso. Tanta certeza que apostaria sua própria vida nisso. Como um policial experiente, sentia em seus ossos que alguma coisa estava errada em tudo aquilo.
 Desde que começara a atender Augusto, alguma coisa mudara em Lúcia, uma médica fisioterapeuta. Aquele homem, frágil e indefeso naquela cama, parecia precisar tanto da ajuda dela que Lúcia não pôde controlar-se e acabou envolvendo-se mais do que devia. O que acabou unindo os três numa mesma e perigosa trama, da qual corriam o risco de não sair com vida.

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